quinta-feira, 26 de março de 2009

Construções sustentáveis: Conceitos

“Utilizar os recursos disponíveis no presente sem esgotá-los e comprometer o meio ambiente das gerações futuras”
(Relatório Bruntland – 1987)
Em 1987, com o relatório Brundtland (O Nosso futuro comum) foi concebido o conceito de desenvolvimento sustentável, abrindo assim espaço para uma nova ramificação na arquitetura, que prega uma interação do homem com o meio, utilizando os elementos e recursos naturais disponíveis, preservando o planeta para as gerações futuras, baseado nas soluções socialmente justas, economicamente viáveis e ecologicamente corretas.
Algumas diretrizes a considerar para uma construção sustentável.
* Pensar em longo prazo o planejamento da obra
* Eficiência energética
* Uso adequado da água e reaproveitamento
* Uso de técnicas passivas das condições e dos recursos naturais
* Uso de materiais e técnicas ambientalmente corretas
* Gestão dos resíduos sólidos. Reciclar, reutilizar e reduzir
* Conforto e qualidade interna dos ambientes
* Permeabilidade do solo
* Integrar transporte de massa e ou alternativos ao contexto do projeto.
Existe muita discussão a cerca dos conceitos da construção sustentável. Primeiro que não é certo afirmar simplesmente que uma obra é ou não sustentável. A caracterização da sustentabilidade de uma construção vem do processo na qual esta foi projetada, executada e na somatória das técnicas usadas em relação ao entorno e lugar. Assim, é possível afirmar comparando com outro projeto que uma construção é mais sustentável que a outra.
Pensar em um edifício isolado não faz sentido quando tratamos de questões ambientais como a sustentabilidade dos espaços construídos pelo homem. Por ser sistêmica, a construção para ser sustentável deve ser elaborada em um contexto, o externo é tão importante quanto o que ocorre nas dependências internas. Por isso, a comparação é a melhor forma de avaliar uma construção sustentável, a obra nunca está sozinha.
Se um edifício cumprir todos os pré-requisitos técnicos, respeitar todas as normas éticas ambientais, apenas usar materiais adequados e mesmo assim se fechar para dentro, não condizendo com as necessidades do entorno, não se relacionando com o lugar na qual está inserida, abstrair as outras construções e pessoas que convivem próximo, não estará sendo sustentável.
Pode parecer complicado mas, não existe nenhuma obrigatoriedade de se cumprir todos os requisitos técnicos para uma construção ser sustentável. Caso contrário, as casas seriam todas iguais. Na verdade, as diretrizes são uma forma de orientar aqueles que pretendem construir de uma forma ambientalmente mais responsável.
Uma obra sustentável leva em conta o processo na qual o projeto é concebido, quem vai usar os ambientes, quanto tempo terá sua vida útil e se, depois desse tempo todo, ela poderá servir para outros propósitos ou não. Tudo o que diz respeito aos materiais empregados nela devem levar em conta a necessidade, o desperdício, a energia gasta no processo até ser implantado na construção e, depois, se esses materiais podem ser reaproveitados.
A auto-suficiência da edificação deve ser levada em consideração. Muitas vezes, alguma parcela da energia pode ser gerada no próprio lugar e a água pode ser reaproveitada, fazendo com que no longo prazo se obtenha uma economia considerável nas contas de luz e água. Geralmente a energia externa produz gases de efeito estufa em algum momento de sua produção. Em um contexto mais amplo, proporcionar a sua própria energia faz com que o edifício colabore com a redução destes gases.
Uma arquitetura sustentável deve, fundamentalmente, levar em conta o espaço na qual será implantada. Os aspectos naturais são de extrema importância para se projetar com estes fins. Se respeitadas, as condições geográficas, meteorológicas, topográficas, aliadas às questões sociais, econômicas e culturais do lugar é que definirão o quão sustentável a construção será.
Assim, algumas soluções aplicadas a uma construção no campo podem não ser sustentáveis em outra na cidade e vice versa. Por exemplo, na primeira hipótese pode se pensar em utilizar materiais do lugar (madeira, pedra, terra etc...), pois pode ficar muito caro optar por peças industrializadas, além dos impactos ambientais diretos e indiretos.
O Brasil com o tamanho continental engloba uma série de panoramas climáticos diferentes. Uma construção sustentável deve respeitar e aproveitar o clima na qual está inserida.
Abaixo algumas características que uma residência pode aproveitar de acordo com clima correspondente.
Obviamente como foi dito antes, os esquemas apresentados são somente algumas das inúmeras possibilidades de como uma casa pode ser. A forma, as técnicas e materiais podem e devem ser combinados da melhor maneira que convier; mais uma vez, uma construção sustentável não tem receita pronta, apenas diretrizes a serem levadas em consideração na hora de projetar.
A permeabilidade do solo deve ser um aspecto significante em um projeto sustentável. Proporcionar espaços livres, vegetados e permeáveis faz com que os ambientes que circundam o edifício sejam mais frescos, criando microclimas que aproximam a vida natural do edifício e dão vazão à água que se acumula no chão deixando os espaços mais salubres.
­Pensando no transporte
O modelo de transporte na maioria das cidades está se tornando insustentável. Privilegiar o automóvel como forma prioritária desse sistema pode ter sido uma solução no passado, porém hoje, esta alternativa deve ser revista. As construções sustentáveis devem proporcionar uma integração com o sistema viário que auxilie cada vez, novas formas de chegar e sair dos edifícios. As construções sustentáveis devem ter em seu projeto uma integração que influencie cada vez mais as cidades, tomar como prioridade o uso adequado de transportes de massa e ou alternativos.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Ecobuild

Por Frank Siciliano e Marcelo Todescan, especial para a Envolverde

Fotos Ecobuild 2009.doc

A boa notícia no segundo dia da Ecobuild veio da explanação feita pela ministra do planejamento e habitação Margaret Beckett, que tratou do tema “ O futuro das construções verdes na Inglaterra” . Em breve, os ingleses terão uma lei obrigando o uso de acessórios ecológicos nas construções de casas e mesmo em escolas. Em um futuro próximo, as “ecohouses”, como são chamadas aqui, serão obrigatórias , mas já começam sair das pranchetas e virar realidade. Algumas empresas oferecem kits completos com soluções para o consumidor doméstico, que inclui a combinação de energias limpas, por exemplo, eólica e solar. São vendidos como produtos acabados, completos e funcionando. É uma nova perspectiva que já se abriu para o mercado imobiliário europeu, que já estão sendo exportadas para os países do Leste e para a Ásia.

No que se refere a escolas, um dos projetos que acreditamos mais interessantes, foi o do Studio E, que, de quebra, mostra que por aqui, é realidade a preocupação de reduzir o impacto ambiental na construção e na operação dos grandes edifícios públicos, com vários exemplos prontosem funcionamento. Muito interessante foi o processo de criação desses projetos com o envolvimento dos alunos, professores e da comunidade em todos os estágios, sendo um instrumento de educação e tomada de consciência dos jovens, seus pais e educadores, transformando-os em agentes multiplicadores

Quem quiser conhecer um pouco mais, pode acessar o site http://www.studioe.co.uk/allprojects.html .

Vale destacar também algumas soluções muito simples que estão presentes na feira, como um pequeno captador de de iluminação externa (foto) instalado na cobertura que, através de um tubo refletivo, manda luz à uma lente prismática Possuem aparência e acabamento de luminárias convencionais e iluminam os ambientes de forma muito eficiente.

Outros stands mostram a quantidade enorme de soluções e empresas para instalação de Telhados Verdes em prédios novos e já existentes, com tecnologias muito mais avançadas do que as que encontramos hoje no mercado brasileiro.

Temos também uma exposição de estudantes que mostra, além da qualidade dos trabalhos apresentados, que o caminho da sustentabilidade já permeia de forma definitiva o meio acadêmico daqui. Podemos ver pelas maquetes que estão expostas a qualidade estética dos trabalhos, mostrando que para ser sustentável a arquitetura não precisa ser feia. A indústria local parece que já compreendeu que o sucesso desta transformação trilha o caminho da boa estética e encontramos aqui uma variedade impressionante de materiais ecológicos para acabamento de interiores e fachadas feitos de forma a proporcionar ao arquiteto uma gama de opções que valorizam o desenho arquitetônico.

Os temas voltados às cidades serão tratados no último dia feira mas já foi possível conhecer projetos de casas e até mesmo condomínios , que propõe alternativas para alguns problemas urbanos , incluindo a agricultura urbana, ou a produção de alimentos para o consumo próprio. O link http://www.zedfactory.com/ ; pode dar uma idéia do que estamos falando.

Amanhã, deveremos ter mais informações a esse respeito. Por hoje, essas foram as novidades que nos chamaram mais a atenção.


* Marcelo Todescan é arquiteto formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie com 20 anos de experiência profissional responsável por diversos projetos em diversas áreas, com cursos de extensão universitária em Direito Ambiental nas Faculdades Metropolitanas Unidas e treinamento em Ecovilas, Permacultura, Bio-Construção, Energia Renováveis, Saúde nas Ecovilas e Ecologia Profunda. Membro da Ecovillage Network of the Américas – Brasil.

* Frank Siciliano é arquiteto formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie com 20 anos de experiência profissional responsável por diversos projetos na área da saúde, com cursos de extensão universitária em Planejamento de Campos Universitários e Instalações Esportivas na Republica Federal da Alemanha e treinamento em Ecovilas, Permacultura, Bio-Construção, Energia Renováveis, Saúde nas Ecovilas e Ecologia Profunda.


(Envolverde/O autor)